Durante a pandemia de Covid-19 em 2020, diversos meios de comunicação e socialização foram parados abruptamente pelo mundo todo. E claro que a religião não ficaria sendo uma exceção. Cultos e missas por todo Brasil foram sendo cancelados devido a ordens do Estado, e sob esta premissa, muitos fiéis não aceitaram estas condições.
A fim de buscar maneiras mais amplas de propagar a religião e manter a fé das pessoas, de que esta situação caótica em que se vive em 2020 terá um fim, ideias para “burlar” este meio foram tomadas. Padres e pastores agora apostam em fazer seu conteúdo on-line via streaming para auxiliar a manter a esperança de seus fiéis.
Devido à importância deste assunto, e levando como premissa básica a atual relevância da religião na vida da maioria das pessoas no Brasil, a Humanize-se buscou conhecer e conversar com pessoas cristãs, também conhecidas como fiéis da igreja, para contar-lhes um pouco sobre como tem sido o compromisso religioso durante a pandemia. E os escolhidos para falar sobre tal tema foram Vera Helena Simões, uma senhora de 71 anos, cristã, praticante da religião católica e residente em Cruzeiro (SP). E também ainda para falar sobre o mesmo assunto, Daniela Miranda, de 34 anos, cristã, também praticante da religião católica, e residente em Mogi das Cruzes (SP).
Em um primeiro momento, ambas as entrevistadas sobre o que são as religiões cristãs, e em meio a este questionamento, houve respostas bem convergentes entre Daniela e senhora Vera. “Religiões cristãs tem um único sentido, ter a fé e buscar a um único Deus, independentemente da doutrina católica, evangélica ou outra religião. O cristão busca a Deus, ele busca a sua fé dentro de si.” Essas foram as palavras de Daniela sobre essa questão, e dentro do assunto, senhora Vera manteve a mesma linha de pensamento, levando a seguinte afirmação: “o cristão é aquele que segue a Deus e a religião é apenas um símbolo de sua doutrina.”
Para a senhora Vera, estar próximo à Igreja é estar dentro da Igreja, assistir as missas durante a semana. Pelas palavras dela vê-se a Igreja como forma de emoção: “Me sinto bem dentro da igreja. Sempre que possível, oriento pessoas a irem à Igreja. Lá você reza, comunga, confessa, é uma experiência de viver, é estar em um com a sua fé.” Já para Daniela, igreja significa algo um pouco mais enraizado e integrante em sua vida: “Sou integrante da igreja católica desde quando criança, meus pais são católicos e hoje, eu e meu esposo fazemos parte da pastoral do dizimo, e eu também faço parte da equipe de liturgia e da acolhida da igreja”. Para ela é uma felicidade ajudar pessoas, pois a Igreja é um meio de união, onde pessoas desejam mutuamente o bem umas das outras em comunhão a palavra de Deus. E por meio das falas de ambas as entrevistadas, uma coisa em comum pode ser notada, que é o fato de a Igreja ser mais do que uma doutrina, ser uma forma de estar em união consigo mesmo e também com outras pessoas em prol da fé e palavra de Deus.
É possível notar a diferença entre dois tipos opostos de pessoas dentro da pandemia. “Não estou gostando do sistema on-line. Na Igreja, a fala do padre é próxima, parece que ele está falando diretamente comigo. Enquanto na televisão e na internet, não é a mesma coisa.” O ponto citado por senhora Vera é, justamente, sobre dentro do meio on-line não haver a emoção da missa, não haver o momento de reunião, uma comunhão de corpo e espírito, afinal, segundo ela, não é possível ter uma real concentração e rotina quando a vida religiosa é seguida apenas de forma não presencial.
Em contrapartida, Daniela cita o desespero passado no inicio da pandemia, pois foi uma época onde após sua recente troca de emprego, gerou muita insegurança, principalmente pelo fato de não poder ter um contato presencial com a igreja como forma de acalmar-se. “Hoje, graças a Deus, temos meios de comunicação que trazem Deus de uma forma muito presente para você, de forma a parecer que ele está mesmo dentro de sua casa, mesmo que seja pela televisão ou pela internet.” Para Daniela, é necessário ter um pensamento diferente, uma rotina nova, pois a pandemia gerou transtornos, mas que certa adaptação pode resolver. Manter a calma, durante as missas para ela, interagir mesmo em casa como se estivesse presencialmente: “Eu me colocava na presença do Senhor, me ajoelhava, cantava, tudo em volta dos ritos da igreja, feito em casa sozinha ou com meu esposo.” Ao observar as respostas das duas entrevistadas, é notável a diferença de compromisso para com a religião. Enquanto para uns, ela se associa ao local, à experiência vivida in loco, para outros, o simples fato de sentir Deus é mais do que suficiente para manter a fé acesa.
Sobre a necessidade de manter em dia os compromissos religiosos, Daniela e Vera tiveram de responder sobre seus desafios enfrentados para manter sua rotina religiosa durante a pandemia. “Na rotina normal, eu me arrumo tempos antes da missa, e se a missa começa às 15h, eu tenho que chegar pelo menos dez minutos antes na igreja. É um compromisso comigo mesma, uma rotina. Enquanto dentro de casa, não tem graça, eu não me arrumo, a missa começa a qualquer hora, estou parada e desconcentrada, penso que durante a missa estou parada e poderia fazer outra coisa por estar em casa, enquanto presencialmente isso não ocorre.” Já a senhora Vera comenta sobre a dificuldade de manter sua rotina religiosa, devido às comodidades geradas pelo ambiente familiar de sua casa. Além do que, para ela, não bastam apenas os horários e compromissos criados pela rotina presencial; a socialização dentro da igreja com outros fiéis também é peça fundamental para uma rotina religiosa saudável.
Daniela, quando questionada sobre o assunto, teve uma opinião um pouco diferente. “Eu estava na pandemia, estava em casa, então eu não tinha horário de trabalho. Eu me dedicava a cuidar do lar, e quando tinha as programações da Canção Nova, TV Aparecida e outras, eu seguia os horários de programação mantidos por eles. Eu buscava me manter ocupada psicologicamente com os horários que a Canção Nova dispunha pela TV ou até mesmo online, buscando assistir tudo que me interessava.” Daniela também cita que o padre de sua igreja e para os participantes da mesma, tentaram manter os mesmos horários presenciais para o compromisso on-line. Assim, de certa forma, para ela e para algumas pessoas, a rotina on-line foi bem parecida com a presencial, exceto, claro, para pessoas que não têm acesso a um bom sistema de internet, ou mesmo que têm dificuldade com tecnologias, em suma, pessoas mais idosas. Observando de forma a geral as rotinas de senhora Vera e Daniela, é possível notar justamente as diferenças de uma pessoa mais nova e uma mais velha no que tange ao alcance e incentivo da tecnologia dentro da religião. Para um idoso, é desestimulante e cansativo, fora do padrão, enquanto para alguém mais jovem e com disposição a adaptações, torna-se uma tarefa mais simples essa mudança repentina no meio religioso.
E por fim, ambas as entrevistadas sobre a questão de manter esperança e fé com relação ao fim da pandemia, e suas respostas foram bem parecidas. “Muita fé e esperança, que da mesma forma que a pandemia veio, ela irá embora, poderemos voltar à normalidade a qualquer momento. Isso é uma provação de Deus, coisas assim vêm e vão para testar a nós que vivemos na carne.” Senhora Vera comenta sobre o fato de tragédias como o Covid-19 ocorrerem e serem provações de força divina, e é de fato uma bela maneira de pensar sobre a situação em que o mundo vive e sobre como ela irá passar. Já na fala de Daniela, vemos até mesmo uma passagem mais bíblica sobre a situação em que vivemos, “Como diz a palavra do Senhor, não cai uma folha da árvore se Deus não quiser. Tudo é da permissão dele, tem um motivo para qual começou, qual? A gente pode não ter a resposta. Quando? A gente pode também não ter a resposta. Mas uma coisa é certa, eu creio que isso vai passar e creio também que outras coisas ainda vão acontecer.” E neste ponto, Daniela chega até mesmo a citar sobre o livro bíblico na passagem de apocalipse, e diz que mesmo com todas as dificuldades, um cristão irá sempre manter seu foco, e esse foco é Deus.
Deste modo, ao analisar tudo que foi dito por Daniela e senhora Vera, é de extrema compreensão que pandemia é um assunto que veio, e uma hora irá embora, demore ou não. Sabe-se também que a internet é meio religioso também, mas apenas para aqueles que estão dispostos a se adaptar. E que por fim, mesmo pessoas comuns, cristãos de fé, que tem grandes dificuldades, conseguem manter a esperança em meio a todo esse clima caótico do mundo em 2020.
Matéria feita por: Halysson Simões
Estudante do 4º Período de Jornalismo do UNIFATEA
Matéria publicada em: https://www.a12.com/redacaoa12/igreja/religiao-na-pandemia-a-nova-rotina-do-cristao
Fonte: Unifatea
Imagem: Unifatea